segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

UM MUNDO MUITO PEQUENO


O meu pai, após uma experiência frustrada de uma sociedade com os irmão para plantarem arroz, foi morar em uma fazenda à uns sete quilômetros da cidade de São Sepé. Esta fazenda tinha sido adquirida por um primo da minha avó, mãe do meu pai. Era a fazenda do Cinamomo, de propriedade do tio Manoel. Pelos trabalhos prestados na fazenda ele não recebia salário e sim um pedaço de terra que variava de ano para ano, de acordo com as conveniências e necessidades. Recebia também pequenos favores e uma coisa muito importante. Ele era, para a quase totalidade da cidade, o dono da fazenda, não adiantava dizer que não porque ele assim era considerado e pronto. Um dos favores que o Seu Antão recebeu foi que o tio Manoel, proprietário da fazenda, resolveu trocar de camionete e vendeu, a preço modico para o meu pai, a que ele tinha. Era uma Ford azul e branca em ótimo estado de conservação, placas 06.96.96 de São Sepé. Meu tio, Carlos Vicente (Leto) irmão do meu pai, tinha uma Willys toda esbodegada, , já bem velha e com placas de Santa Maria, que fora alcunhada de Letocapi. O meu tio Leto era bem diferente do meu pai que era um homem alto gordo e nada tinha a ver com o tio que era magrinho baixinho e com uma fisionomia que nada se pareia com o meu pai. Vai que um dia resolveram ir os dois para Porto Alegre, cada um em seu veículo. Naquele tempo estavam asfaltando a BR 290 e lá pelas tantas surge pela frente um atoleiro, com veículos tendo que ser puxados por tratores ou patrolas para sair do outro lado. Todos em fila aguardando a sua vez de ser rebocado. Parou meu tio, o pai e logo atrás dos dois, um sujeito com uma camionete igualzinha a do pai. O meu tio, todo pachola desceu, ligou a tração nas 4 rodas que a dele tinha, as outras não, e se foi. Se foi e ficou logo uns 20 metros na frente pois o barro era intransponível sem o auxilio de um rebocador. O sujeito do veículo igual ao do pai puxou conversa e disse: Olha só aquele idiota, onde ele pensa que vai com aquele caco dele que nós não vamos com estas nossas camionetes. Quando que o desgraçado iria imaginar que um sujeito com as características tão diferentes e com um veículo tão inferior e com placas de outra cidade, poderia ser irmão do ouvinte. Pois era. Vejam vocês como este mundo é pequeno. Pequeno e redondo.

Afonso Pires Faria, 28 de dezembro de 2015.

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