O meu pai, após uma experiência frustrada de uma sociedade com os
irmão para plantarem arroz, foi morar em uma fazenda à uns sete quilômetros da
cidade de São Sepé. Esta fazenda tinha sido adquirida por um primo da minha
avó, mãe do meu pai. Era a fazenda do Cinamomo, de propriedade do tio Manoel. Pelos
trabalhos prestados na fazenda ele não recebia salário e sim um pedaço de terra
que variava de ano para ano, de acordo com as conveniências e necessidades.
Recebia também pequenos favores e uma coisa muito importante. Ele era, para a
quase totalidade da cidade, o dono da fazenda, não adiantava dizer que não
porque ele assim era considerado e pronto. Um dos favores que o Seu Antão
recebeu foi que o tio Manoel, proprietário da fazenda, resolveu trocar de
camionete e vendeu, a preço modico para o meu pai, a que ele tinha. Era uma
Ford azul e branca em ótimo estado de conservação, placas 06.96.96 de São Sepé.
Meu tio, Carlos Vicente (Leto) irmão do meu pai, tinha uma Willys toda
esbodegada, , já bem velha e com placas de Santa Maria, que fora alcunhada de
Letocapi. O meu tio Leto era bem diferente do meu pai que era um homem alto
gordo e nada tinha a ver com o tio que era magrinho baixinho e com uma
fisionomia que nada se pareia com o meu pai. Vai que um dia resolveram ir os
dois para Porto Alegre, cada um em seu veículo. Naquele tempo estavam
asfaltando a BR 290 e lá pelas tantas surge pela frente um atoleiro, com
veículos tendo que ser puxados por tratores ou patrolas para sair do outro
lado. Todos em fila aguardando a sua vez de ser rebocado. Parou meu tio, o pai
e logo atrás dos dois, um sujeito com uma camionete igualzinha a do pai. O meu
tio, todo pachola desceu, ligou a tração nas 4 rodas que a dele tinha, as
outras não, e se foi. Se foi e ficou logo uns 20 metros na frente pois o barro
era intransponível sem o auxilio de um rebocador. O sujeito do veículo igual ao
do pai puxou conversa e disse: Olha só aquele idiota, onde ele pensa que vai
com aquele caco dele que nós não vamos com estas nossas camionetes. Quando que
o desgraçado iria imaginar que um sujeito com as características tão diferentes
e com um veículo tão inferior e com placas de outra cidade, poderia ser irmão
do ouvinte. Pois era. Vejam vocês como este mundo é pequeno. Pequeno e redondo.
Afonso Pires Faria,
28 de dezembro de 2015.
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