Sempre que saio a
caminhar na praia, costumo deixar a camiseta, o boné, a bermuda e os óculos
escuros, em um bar que fica na orla, para eu fazer a caminhada mais a vontade.
Alterno durante o trajeto, caminhada e corrida conforme me foi ensinado pelo
professor da academia, para perder mais peso. Começo dando preferência pela
caminhada e termino mais correndo do que caminhando. Na volta de uma destas
minhas andanças, já estava eu voltando a passos largos, e contra o vento, o que
me permitiu ouvir o diálogo de um casal, ambos bem fora de forma. Escutei quando
a mulher se referiu ao marido como Chico. Chico pensei eu, deve ser Francisco,
e me lembrei de fazer a minha maldade do dia logo nas primeiras horas para
ficar livre logo cedo deste compromisso para o resto do dia. Faltando uns cinco
metros, passei de passos a corrida e quando ultrapassei o casal, pelo lado do
marido, dei-lhe um leve toque no ombro e, sem olhar para traz falei com tom de
bastante intimidade “Então Francisco, vamos este ano, fechar aquele puteiro
novamente?”, e segui correndo com um pouco de velocidade a mais do que o normal
na esperança quase certa de que ele, por ser bem gordinho, nem tentaria sair
correndo ao meu encalço. E não parei mais de correr até chegar ao bar onde eu
deixara meus apetrechos. Vesti a bermuda, botei a camisa o boné e os óculos, o
que me tornou praticamente irreconhecível e voltei em sentido contrário para
ver o resultado da minha maldade. Eles andavam bem mais longe um do outro e não
falavam mais. A cara dele era de pavor e a dela de fúria.
Afonso Pires Faria, 27
de dezembro de 2015.
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