Pois
reza a lenda que Deus não dá a mulher, simpatia, inteligência e beleza em
abundância em um mesmo corpo. Se lhe é dado em demasia uma delas, lhe faltara
às outras duas virtudes e se possui as três, certamente serão em dosagem
modesta. Pois ao homem também existe uma
dosagem entre dois itens: inteligência e força. Salvo raras exceções, assim
como nas mulheres, os homens quando dotado de um destes predicados não tem o
outro em grande quantidade. Mas como eu
disse, existem casos raros em que o homem é inteligente e forte. Se o Criador
deu estas duas qualidades a um ser masculino certamente lhe colocou um defeito
que fizesse com que estas vantagens se diluíssem. É o caso do, vou chama-lo de
Caio. Este cidadão era provido de uma grande capacidade de fazer as coisas,
tinha uma habilidade fora do comum, uma ótima percepção, e força para
executá-las, em abundância. Estaria rico não fosse o lado fraco desta pobre
criatura: Era mulherengo e se apaixonava com uma facilidade tremenda, e sempre
por alguém que não o merecia. Entrava uma mulher na sua vida, e o estrago já se
anunciava, mesmo apesar dos avisos dos amigos de que ele estava sendo iludido,
explorado e outras coisas mais feias, ele não dava ouvidos senão a bela
donzela, que nem sempre era tão bela assim, e se não era também simpática,
certamente lhe sobrava inteligência que era utilizada para o mal, e a vítima
sempre o coitado do Caio. Mas tantas foram as vezes que fora enganado que desta
vez deveria ser diferente. A Matilde era, segundo ele, a mulher de sua vida.
Sobravam-lhe qualidades; inteligente, simpática e bela, tudo em doses
generosas, tanto que nem os amigos que dantes lhe desaconselhavam, ousaram ir
contra o seu romance. E esta foi na que ele mais investiu. Gastou as suas
economias e fez dívidas para dar-lhe uma casa com todo o conforto. Mas não
seria esta a vez que este pobre desgraçado encontraria o amor da sua vida; a
sua cara-metade. E não foi. Primeiro chegou um filho de outro casamento, pois o
pai havia sido preso e ele não teria com quem ficar. Depois veio a mãe doente,
depois um irmão que veio para “ajudar” nas despesas. O pobre diabo de tanto
trabalhar, deixou de dar a devida atenção a sua amada, e não deu outra:
Descobriu que outro, durante as suas ausências, andava visitando seu lar. O que
ele fez, resultou no que ele é hoje. Um morador de rua que dorme sobre caixas
de papelão e coberto de jornais, em frente do prédio dos correios, ao lado da
igreja, ou no interior de algum prédio abandonado de uma cidade qualquer deste
nosso litoral. Fez-me lembrar os versos de Darci Fagundes: “Oiga-le china, anjo
do mal/ tinha no olhar o fio de um punhal/ a desconfiança amarga de um
proscrito/ foi tanto desencanto que lhe trouxe/ que um dia eu desejei que ela
se fosse/ e desde então sou um infeliz solito.”
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