sábado, 26 de agosto de 2017

DESGRAÇADO.

Pois reza a lenda que Deus não dá a mulher, simpatia, inteligência e beleza em abundância em um mesmo corpo. Se lhe é dado em demasia uma delas, lhe faltara às outras duas virtudes e se possui as três, certamente serão em dosagem modesta.  Pois ao homem também existe uma dosagem entre dois itens: inteligência e força. Salvo raras exceções, assim como nas mulheres, os homens quando dotado de um destes predicados não tem o outro em grande quantidade.  Mas como eu disse, existem casos raros em que o homem é inteligente e forte. Se o Criador deu estas duas qualidades a um ser masculino certamente lhe colocou um defeito que fizesse com que estas vantagens se diluíssem. É o caso do, vou chama-lo de Caio. Este cidadão era provido de uma grande capacidade de fazer as coisas, tinha uma habilidade fora do comum, uma ótima percepção, e força para executá-las, em abundância. Estaria rico não fosse o lado fraco desta pobre criatura: Era mulherengo e se apaixonava com uma facilidade tremenda, e sempre por alguém que não o merecia. Entrava uma mulher na sua vida, e o estrago já se anunciava, mesmo apesar dos avisos dos amigos de que ele estava sendo iludido, explorado e outras coisas mais feias, ele não dava ouvidos senão a bela donzela, que nem sempre era tão bela assim, e se não era também simpática, certamente lhe sobrava inteligência que era utilizada para o mal, e a vítima sempre o coitado do Caio. Mas tantas foram as vezes que fora enganado que desta vez deveria ser diferente. A Matilde era, segundo ele, a mulher de sua vida. Sobravam-lhe qualidades; inteligente, simpática e bela, tudo em doses generosas, tanto que nem os amigos que dantes lhe desaconselhavam, ousaram ir contra o seu romance. E esta foi na que ele mais investiu. Gastou as suas economias e fez dívidas para dar-lhe uma casa com todo o conforto. Mas não seria esta a vez que este pobre desgraçado encontraria o amor da sua vida; a sua cara-metade. E não foi. Primeiro chegou um filho de outro casamento, pois o pai havia sido preso e ele não teria com quem ficar. Depois veio a mãe doente, depois um irmão que veio para “ajudar” nas despesas. O pobre diabo de tanto trabalhar, deixou de dar a devida atenção a sua amada, e não deu outra: Descobriu que outro, durante as suas ausências, andava visitando seu lar. O que ele fez, resultou no que ele é hoje. Um morador de rua que dorme sobre caixas de papelão e coberto de jornais, em frente do prédio dos correios, ao lado da igreja, ou no interior de algum prédio abandonado de uma cidade qualquer deste nosso litoral. Fez-me lembrar os versos de Darci Fagundes: “Oiga-le china, anjo do mal/ tinha no olhar o fio de um punhal/ a desconfiança amarga de um proscrito/ foi tanto desencanto que lhe trouxe/ que um dia eu desejei que ela se fosse/ e desde então sou um infeliz solito.”

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