quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O DORMINHOCO E O DISTRAÍDO.


Quando abri os olhos me deparei com uma situação no mínimo inusitada. Tudo escuro ao meu redor e eu sentado e uma espécie de poltrona ou cadeira, não sei bem, vestindo um avental. No início fiquei curioso e quando fui me dando conta de que não tinha a mínima noção de onde estava, a curiosidade foi se transformando em pavor. Esfreguei os olhos na esperança de que o gesto me fizesse clarear o ambiente, mas foi em vão. Tudo permanecia escuro e só com o passar de uns dez minutos, que pareceram dois dias, é que fui enxergando alguns vultos. Nada definido. Nem os objetos que me circundavam e muito menos o lugar onde eu estava, nem mesmo o motivo. Teria eu bebido demasiadamente e estaria em um lugar perigoso? Já não estava apavorado, mas sim com medo. Depois do pavor e medo veio a curiosidade e por último as surpresas que foram se desnudando quando comecei a ter consciência do local onde poderia estar. Era um local asseado, não fedido, pelo contrário tinha um certo aroma no ar. Onde eu estava? Pode parecer trágico, mas não é. É cômico. É o meu relax mais apreciado a hora do cortar o cabelo e fazer a barba. Invariavelmente durmo logo que o profissional inicia seus trabalhos. Para isso ocorrer, escolho o local mais escondido do salão e o barbeiro não tem a menor pressa e fazer sua tarefa. Enquanto isso eu durmo. Durmo o sono dos justos. Ele sai, vai ao banheiro, até a porta olhar os movimentos, volta corta um pouco mais do meu cabelo, saí da peça, que fica isolada do resto do ambiente, e assim o seu Assis, fazia seu trabalho. Totalmente descompromissado com o seu cliente. Desta vez o seu descompromisso e distração, foram além do que poderia se julgar razoável. Na saída para ver o movimento, um amigo iniciou com ele uma conversa, foram caminhando pela rua e já estando perto de casa perto da hora de fechar o estabelecimento comercial, achou que nem valeria mais a pena voltar. E eu fiquei lá escondido no quartinho contíguo ao grande salão, dormindo. O proprietário, sem se dar conta que eu ainda estava no recinto, apagou as luzes e fechou a barbearia. Não é trágico não, é cômico sim, pois passado o susto eu avisei que lá estava e o velho Assis veio em meu socorro. É uma briga para eu pagar os seus serviços depois deste ocorrido tamanha a vergonha que ele ficou de mim. Fosse eu um ranzinza o desfecho da história seria outro, mas não, é motivo de graça para mim. Para ele não. Não se perdoa pelo fato. E eu me divirto contando a história para meus amigos.
Afonso Pires Faria, 10.10.2019.

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