Quando abri os olhos me deparei com uma situação no mínimo
inusitada. Tudo escuro ao meu redor e eu sentado e uma espécie de poltrona ou
cadeira, não sei bem, vestindo um avental. No início fiquei curioso e quando
fui me dando conta de que não tinha a mínima noção de onde estava, a
curiosidade foi se transformando em pavor. Esfreguei os olhos na esperança de
que o gesto me fizesse clarear o ambiente, mas foi em vão. Tudo permanecia
escuro e só com o passar de uns dez minutos, que pareceram dois dias, é que fui
enxergando alguns vultos. Nada definido. Nem os objetos que me circundavam e
muito menos o lugar onde eu estava, nem mesmo o motivo. Teria eu bebido
demasiadamente e estaria em um lugar perigoso? Já não estava apavorado, mas sim
com medo. Depois do pavor e medo veio a curiosidade e por último as surpresas
que foram se desnudando quando comecei a ter consciência do local onde poderia
estar. Era um local asseado, não fedido, pelo contrário tinha um certo aroma no
ar. Onde eu estava? Pode parecer trágico, mas não é. É cômico. É o meu relax
mais apreciado a hora do cortar o cabelo e fazer a barba. Invariavelmente durmo
logo que o profissional inicia seus trabalhos. Para isso ocorrer, escolho o
local mais escondido do salão e o barbeiro não tem a menor pressa e fazer sua
tarefa. Enquanto isso eu durmo. Durmo o sono dos justos. Ele sai, vai ao
banheiro, até a porta olhar os movimentos, volta corta um pouco mais do meu
cabelo, saí da peça, que fica isolada do resto do ambiente, e assim o seu
Assis, fazia seu trabalho. Totalmente descompromissado com o seu cliente. Desta
vez o seu descompromisso e distração, foram além do que poderia se julgar
razoável. Na saída para ver o movimento, um amigo iniciou com ele uma conversa,
foram caminhando pela rua e já estando perto de casa perto da hora de fechar o
estabelecimento comercial, achou que nem valeria mais a pena voltar. E eu
fiquei lá escondido no quartinho contíguo ao grande salão, dormindo. O
proprietário, sem se dar conta que eu ainda estava no recinto, apagou as luzes
e fechou a barbearia. Não é trágico não, é cômico sim, pois passado o susto eu
avisei que lá estava e o velho Assis veio em meu socorro. É uma briga para eu
pagar os seus serviços depois deste ocorrido tamanha a vergonha que ele ficou
de mim. Fosse eu um ranzinza o desfecho da história seria outro, mas não, é
motivo de graça para mim. Para ele não. Não se perdoa pelo fato. E eu me
divirto contando a história para meus amigos.
Afonso
Pires Faria, 10.10.2019.
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