domingo, 13 de outubro de 2019

BEM ASSIM!


Pois o sujeito não andava lá muito bem de vida, mas dava para o gasto. A cidade onde morava era próspera e não havia crise no mercado, por isso mesmo com parcos recursos podia sobreviver. Mas a prosperidade alheia e as aquisições de bens, fazem com que os outros também sintam esta necessidade. Pois ele vendo seus próximos comprarem automóvel, viu-se no direito de também ter o seu. Financiou em algumas parcelas e saiu da revenda de carro zero. As prestações cabiam no seu orçamento. Com a família ficando mais velha, filhos na adolescência, foram sendo avultadas as demandas por alguns bens de melhor qualidade como roupas e despesas escolares, festas etc. Estava empregado, o clima era de progresso e promessas de uma promoção, arriscou-se em mais alguns financiamentos, sempre a longo prazo. Surgiram alguns imprevistos nas finanças, como conserto do automóvel, uma cirurgia imprevista na esposa, troca de alguns eletrodomésticos por outros mais econômicos e/ou modernos, e assim algumas prestações foram atrasando, gerando juros e multas. Nada que não se resolvesse com novos empréstimos a juros um pouco maiores, já que seu fator de risco aumentou dado aos atrasos que vinha tendo em seus compromissos. Eis que uma grande instituição financeira, prometeu-lhe um só grande empréstimo, que saldaria todas as suas dívidas com juros que, embora um pouco maiores alongaria suas prestações quase que “ad eternun”. Aceitou de pronto, ainda mais que lhe sobraria bastante dinheiro e ele ficaria livre de vários cobradores lhe fazendo pressão. Trataria com um só. As prestações, claro, comprometiam quase todo seu orçamento, mas ele estava com uma boa quantia de recursos e a promessa de uma boa promoção no trabalho. Todos estavam sendo promovidos e chegaria a sua vez. Na certeza do progresso futuro, passou inclusive a fazer doações a vizinhos e amigos que lhe eram simpáticos, ajudaram em seus pleitos junto a clubes sociais, ficou influente na roda de amigos, viajava a negócios, sem que ninguém soubesse que negócios eram. Quando alguém necessitava de recursos, emprestava ou intermediava junto a alguma entidade financeira a realização do empréstimo. A mulher, vendo que havia muita espuma e pouco líquido no recipiente, alertou para que houvesse mudanças, ele irritado logo se separou e casou-se com outra. Esta, ao contrário da mulher anterior, lhe dava o maior apoio em suas investidas. Os filhos que ficaram com a antiga mulher, ficaram inconformados em perder a boa e farta vida que levavam, revoltados com a mãe, mas foram obrigados a ficar com ela pois a madrasta rejeitou-os. Mas a conta chegou. Ele, abandonado pelos amigos e pela mais nova companheira, sem a mínima capacidade de honrar seus compromissos, foi processado e o seu incompetente defensor não impediu que lhe fosse tolhida a liberdade. Isto não impediu a antiga esposa tivesse que arcar com várias contas deixadas pelo irresponsável e que, para conseguir manter a sua honra, esforçava-se em pagar. Ficou a pobre coitada com todo o ônus e as frequentes cobrança dos filhos que reclamavam de sua pouca capacidade de manter o nível de vida que levavam quando ainda tinham a administração do pai. Uma vida agora sem luxo e com algumas contas para pagar, mas sendo honradas. Nada de novas aquisições até se saldar o que se deve. E tendo que aturar os filhos a lhe chamar de pouco sensível, desumana e causadora de toda a desgraça. Parece que até a casa o irresponsável havia vendido. Mas ela não entregou. Qualquer semelhança com o que estava e está ocorrendo no nosso país, não é mera coincidência.  
Afonso Pires Faria, 13.10.2019.

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