O Seu Romeu era pai de
dois colegas meus. Frequentemente nos encontrávamos para fazer trabalhos de
aula e seguido ouvia as histórias e conselhos dados por ele. Um dos conselhos
que me marcou foi o de que nós, filhos de gente “de família” tínhamos que
carregar um fardo desigual ao dos outros mortais. Tínhamos que zelar pelo nome
da família, diferentemente dos outros que nada tinham a perder por algo de
errado fizessem. Passando-se alguns anos o Ubirajara, um de seus filhos me
contou do quanto aquele conselho lhe tinha sido útil e que, de fato,
representava a mais pura verdade. Contou-me ele que fazia faculdade em Bagé ou
Pelotas, não me lembro, quando foi comprar passagem para voltar para São Sepé,
deu-se conta que não tinha o dinheiro suficiente para a compra, por distração
ou por falta mesmo. No desespero de pegar o ônibus apelou para o sentimento e
falou para um cidadão que estava perto, tinha boa aparência e parecia ser “de
família”. Todo envergonhado explicou que não era pedinte e que estava
desprevenido dos trocos, que era sepeense e que precisava pagar a passagem. O
homem perguntou-lhe: De que família tu é. Silveira falou o filho do seu Romeu. E
o que tu és do seu Zeca Vicente? Neto, respondeu Ubirajara, já com um leve
sorriso de alívio no rosto, e já lhe explicando que, se o senhor me emprestar o
dinheiro eu prometo que pago assim que chegar, na segunda feira. Não precisa
prometer disse-lhe o desconhecido. Conheço a tua família e sei que não corro o
menor risco de levar calote. De quanto tu precisa? Perguntou, já metendo a mão
no bolso das bombachas e sacando um maço de notas de todos os valores da época.
O conselho do seu Romeu ficou-me marcado até hoje. E mais ainda com os tempos
em que vivemos, com tantos desvios de conduta por parte dos nossos
representantes na política e nos negócios.
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