domingo, 14 de junho de 2015

DESPEDIDA.


Que entre as pessoas existem grandes diferenças, isto é sabido. Que as pessoas que possuem estas diferenças facilmente se atritam, também é sabido e vivenciado diariamente. Varias vezes nos afastamos de pessoas, por estas terem comportamento e hábitos diferentes dos nossos, quando seria bem mais comedido se simplesmente aceitássemos suas atitudes em vez de tentarmos combate-las ou impormos a elas, o nosso modo de ver as coisas. Um tratamento, aparentemente indelicado, para uns, pode ser considerado como uma forma de intimidade para outros. Tem dois ditos que valem muito para mim: “Meu amigo é aquele que me aponta os erros, não aquele que me bajula”, e “Não se fala de corda, em casa de enforcado”. Pois eu considero muito as pessoas que, eventualmente, me dizem algumas verdade e tenho também muita consideração e apresso com as pessoas que se comportam comigo de uma forma, que para terceiros, podem parecer ofensivas, mas que para mim são uma forma de intimidade. Pois era assim que agia comigo a irmã mais velha do meu pai a Maria Medianeira (tia Neneia). Eu aparecia quase sempre de surpresa de visita e era recebido, aparentemente, como um estorvo. Não era. Eu ficava horas ouvindo as suas histórias do passado, que nunca se repetiam por incrível que pareça. A sua fala pausada tinha tudo para me irritar, pois eu ficava ansioso para ouvir o fim da história mas os detalhes, por ela contados, só tornavam a história ainda mais interessante e engraçada. Pois esta sua forma lenta de falar também se representavam na sua forma de agir. E foi justamente isto que a levou embora do nosso convívio. Tinha com ela uma grave doença cardíaca que ela nos escondia. Vai ficar o eco de suas falas quando alertava o tio Carlinhos “Não trata tão bem assim o bicho, que senão ele não vai embora”. Indelicadeza? Que nada, uma forma carinhosa de dizer que a minha presença era muito agradável, assim como as suas histórias. Uma perda que vou custar muito a assimilar. Ela esperou eu me despedir dela para ir embora. Eu não me perdoaria se não tivesse tido tempo de ainda vê-la com vida, mesmo que inerte. Tenho o sentimento de que ela ainda me ouviu cochichar em seu ouvido. “O bicho, veio aqui te ver”.

Afonso Pires Faria, 14 de junho de 2015.

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