Falam os entendidos, que todos nós sonhamos vários sonhos durante
o sono, mas que pouco nos lembramos deles apos despertos. Ao ter este
conhecimento, procurei me ater mais a este fenômeno e, pela manhã, fazer um
esforço para me lembrar do que havia sonhado. Perfeito. Lembrei-me de vários
deles assim que me detive a me dedicar a esta tarefa, logo ao acordar. Fui me
dedicando mais a esta arte de lembrar os devaneios noturnos que resolvi
aprimorar esta tarefa. Comecei a interferir neles. Quando estava sonhando, muitas vezes eu tinha
consciência de que aquilo não era realidade e me incorporava à cena, para tirar
proveito dela. Comecei a alterar o curso da história sonhada de forma a me
vingar de alguns desafetos que, por ventura aparecessem nos episódios sonhados.
Foi muito gratificante. Alguém de quem eu não tinha muita simpatia as vezes
sofria algum acidente doméstico, outros sofriam ferimentos, brigavam com amigos
ou parentes e por aí eu me vingava de forma indolor para os inimigos, mas que
me causavam algum conforto. Fui incrementando as minhas maldades. Causei um acidente
com um cidadão que me trouxe prejuízos pecuniários em uma negociação, e não
satisfeito, o internei em um leito hospitalar em estado deplorável. Eu era o
enfermeiro e o médico que o tratava. Podia no meu sonho, vê-lo sofrendo e
pedindo clemência. Divertia-me muito com os fatos sonhados até que um dia, eu vi que a minha primeira
intervenção havia se confirmado. Os iniciantes eram de danos de pequena monta,
apenas pecuniários, mas quando percebi as efetivas realizações dos meus desejos
ocultos, tentei reverter, em vão, o curso dos acontecimentos. E, vendo que não
podia mais alterar os fatos que iriam ocorrer, restou a mim divertir-me com eles. Pude então visitar, não
como médico, mas como “amigo”, o sujeito a que eu propiciei o acidente. De fato
ele estava em estado de miséria e digno de pena, sim, de pena de outros, mas eu
não pude conter o meu prazer de vingança.
Afonso Pires Faria, 18.01.2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário