quinta-feira, 1 de setembro de 2022

DISTOPIA, MENTIRAS E OUTRAS VAGABUNDAGENS.

 

É praticamente impossível dissociar o que está acontecendo no nosso país, com fantasias, ficção, distopias ou fábulas. Todo o imaginário que autores colocam em suas obras tem a finalidade de aguçar em nós, a imaginação. Devemos tirar lições dos mal feitos para que isto não ocorra na realidade. Algumas obras são tão hiperbólicas, que chegamos quase deixar de ler a história, por acha-la demasiado ficcional. Exemplo disso “O Processo” de Franz Kafka. O absurdo da história é que um sujeito responde a um processo, do qual desconhece totalmente e é negado a si e aos seus advogados, o seu conteúdo. A coisa fica mais inacreditável ainda, quando o autor deixa transparecer que não existe no governo nenhuma espécie de ditadura, não havia nenhum déspota. A coisa era surreal mesmo. Pois outro autor, George Orwell, conseguiu fazer uma obra que nos deixa ainda mais incrédulos. Em “1984”, no livro escrito na década de 50, o autor descamba para o inacreditável. Cria um mundo distópico, em que, aí sim o governo é autoritário. Faz a mentira virar verdade e comete todo o tipo de atrocidade para manter-se no poder. Inverte o sentido das palavras e cria inimigos inexistentes, com a finalidade de manter toda a população em pânico. Nem precisamos sair da nossa terra para termos exemplos de narrativas que poderiam ser consideradas como um humor sem graça e sem lógica. Machado de Assis em “O Alienista”, escreve sobre um médico que imaginando ser sabedor de ciências que outros desconheciam, resolveu que a cidade onde morava, era infestada de sujeitos desprovidos da razão e criou um lugar para trancafia-los, afim de que não causassem mal ao restante da população. Tantos foram os internados que ele próprio chegou a conclusão de sua incapacidade de fazer o razoável julgamento da sanidade mental dos outros. Teríamos que recorrer a Esopo, com suas fábulas, para explicar como é que se pode inverter a realidade de forma tão arbitraria em “O Lobo e o Cordeiro”. Se tivéssemos um mago do mal que visse todas estas barbaridades, resolvesse coloca-las em um caldeirão e misturar tudo, não conseguiria demonstrar com tanta precisão o que estamos vivendo no nosso país, no atual momento.

Afonso Pires Faria, I. IX. MMXXII.

Um comentário:

  1. Que maneira certeira de expressar o que estamos vivendo! Abraço!

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