É praticamente impossível dissociar o
que está acontecendo no nosso país, com fantasias, ficção, distopias ou
fábulas. Todo o imaginário que autores colocam em suas obras tem a finalidade
de aguçar em nós, a imaginação. Devemos tirar lições dos mal feitos para que
isto não ocorra na realidade. Algumas obras são tão hiperbólicas, que chegamos
quase deixar de ler a história, por acha-la demasiado ficcional. Exemplo disso
“O Processo” de Franz Kafka. O absurdo da história é que um sujeito responde a
um processo, do qual desconhece totalmente e é negado a si e aos seus advogados,
o seu conteúdo. A coisa fica mais inacreditável ainda, quando o autor deixa
transparecer que não existe no governo nenhuma espécie de ditadura, não havia
nenhum déspota. A coisa era surreal mesmo. Pois outro autor, George Orwell,
conseguiu fazer uma obra que nos deixa ainda mais incrédulos. Em “1984”, no livro
escrito na década de 50, o autor descamba para o inacreditável. Cria um mundo
distópico, em que, aí sim o governo é autoritário. Faz a mentira virar verdade
e comete todo o tipo de atrocidade para manter-se no poder. Inverte o sentido
das palavras e cria inimigos inexistentes, com a finalidade de manter toda a
população em pânico. Nem precisamos sair da nossa terra para termos exemplos de
narrativas que poderiam ser consideradas como um humor sem graça e sem lógica.
Machado de Assis em “O Alienista”, escreve sobre um médico que imaginando ser
sabedor de ciências que outros desconheciam, resolveu que a cidade onde morava,
era infestada de sujeitos desprovidos da razão e criou um lugar para
trancafia-los, afim de que não causassem mal ao restante da população. Tantos
foram os internados que ele próprio chegou a conclusão de sua incapacidade de
fazer o razoável julgamento da sanidade mental dos outros. Teríamos que
recorrer a Esopo, com suas fábulas, para explicar como é que se pode inverter a
realidade de forma tão arbitraria em “O Lobo e o Cordeiro”. Se tivéssemos um
mago do mal que visse todas estas barbaridades, resolvesse coloca-las em um
caldeirão e misturar tudo, não conseguiria demonstrar com tanta precisão o que
estamos vivendo no nosso país, no atual momento.
Afonso Pires Faria, I. IX. MMXXII.
Que maneira certeira de expressar o que estamos vivendo! Abraço!
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