Do blog
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de: Diego Primon Martins
Essa semana Anders Behring Breivik, réu confesso dos atentados ocorridos em 22 de julho deste ano na Noruega, onde ele assassinou 77 pessoas, concedeu uma polêmica entrevista de dentro da prisão ao Jornal VG, de OSLO, onde afirmou que no dia dos atentados, o carro-bomba que preparou tinha originalmente a intenção de derrubar o edifício inteiro da sede do governo da Noruega para matar do primeiro-ministro do país, Jens Stoltenberg, além da ex-premiê Gro Harlem Brundtland, o titular das Relações Exteriores, Jonas Gahr Store, e o presidente da juventude social-democrata (AUF) Eskil Pedersen, aos quais chamou de "traidores de classe A", mas a explosão causada por ele, que matou oito pessoas, não conseguiu atingir o objetivo. Na mesma entrevista, Breivik afirmou que foi após fracassar nessa “missão” que decidiu ir à ilha de Utoya, onde matou a tiros 69 jovens que estavam acampados em um evento da juventude social-democrata.
O jovem bem sucedido nos negócios, que outrora fora adjetivado positivamente por muitas pessoas, hoje recebe um tratamento oposto, sendo considerado um monstro tenebroso por boa parte do mundo. Digo “boa parte” porque mesmo sendo um assassino brutal, Breivik possui admiradores.
As declarações dele ao jornal surpreendem pelo desdém com que trata o fato de ter executado friamente quase 80 pessoas em um único dia, colocando o massacre dos estudantes como uma espécie de “prêmio de consolação” por não ter atingido o objetivo principal. E tudo indica, a julgar pelos detalhes que envolvem o caso, que mesmo que tenha sido uma espécie de “plano B”, o assassinato dos jovens foi muito bem arquitetado e calculado, em uma notável lógica perversa de obtenção de sucesso a qualquer custo.
Essa postura fria e ausente de empatia é geralmente vista em pessoas com distúrbios de personalidade graves, como os sociopatas, maníacos e os assassinos em série, mas, a contragosto do senso comum e da imprensa, seria realmente coerente afirmar que esse homem é um louco? A pergunta parece ridícula em um primeiro momento, mas se levarmos em conta que a menos de um semestre Breivik era um cidadão exemplar em todos os contextos sociais da sua comunidade, sendo um jovem bem apessoado de 32 anos muito bem sucedido nos negócios, cristão, com uma rotina saudável de exercícios, atuante no cenário político, formador de opinião e bem humorado na maior parte do tempo, será que o argumento de que ele é insano se sustenta?
A resposta é difícil de ser definida ao passo que entende-se por “louco” uma pessoa que vive em um mundo diferenciado dos demais seres humanos. Com conceitos distorcidos e deformados em suas impressões de mundo, e que age segundo suas próprias regras, sejam elas ordenadas conscientemente por si mesmo ou por alguma entidade externa fruto de seu delírio. E essa descrição não se encaixa em Anders Breivik , que tem uma vida correta segundo os conceitos de sua comunidade, mas sem ser correta demais como esperam alguns fãs do assassino.
Ele era uma pessoa normal até um dia antes do atentado, e agora, foi promovido a lunático após um fato absolutamente isolado de sua vida. E tanto antes quanto depois de seu pretenso “surto psicótico” ele continua apresentando uma leitura fria, calculista e cruel dos acontecimentos, mas todas inegavelmente reais.
Os motivos que ele apresenta para justificar sua atitude, apesar de pesadamente carregados de passionalidade e preconceitos, existem realmente, não são delírios de uma mente perturbada.
Não, Breivik não é louco.
É um fanático, cruel e perverso sim, mas louco ele não é. Ele sabia o que estava fazendo, e continua consciente do que fez, e a frieza em seu depoimento apenas demonstra a certeza que ele tem sobre suas convicções ideológicas, onde ele se isenta de culpa.
Chamá-lo de louco é simplificar perigosamente o que ele representa. É afastar a possibilidade dele não ser o único militante de suas idéias racistas que considere o homicídio em massa uma opção para atingir seus fins.
Notoriamente extremista em suas crenças, esse norueguês carrega consigo além de adjetivos figurados a respeito do seu desrespeito pela vida dos seus opositores, a pecha de ser um militante da direita conservadora européia, sendo popularmente nomeado como “ultradireitista” ou “de extrema direita” pelos jornais. O que serve tanto para buscar uma maior justificativa para sua suposta loucura, quanto para tentar agredir os movimentos legítimos da direita na Europa, que encontram-se em uma fase de popularidade bastante crescente.
É preciso fazer uma leitura critica dos fatos para não se entrar em contradição, uma vez que a maior parte dos argumentos levantados pelo senso comum e pela imprensa mundial não são capazes de se sustentar em uma avaliação pontual.
Breivik é inegavelmente um assassino frio e com motivação racista de altíssima periculosidade, e as razões dele para os crimes que cometeu são mesmo de origem ideológica. Mas, ele não deixa de ser um membro considerado da elite européia, e apesar das ideologias dele serem condizentes com as propostas dos partidos de direita, ele não é nada além de um cidadão comum na esfera partidária.
A busca por encontrar uma razão demoníaca para as atitudes dele, culpando algo pretensamente maior do a simples vontade, de forma quase metafísica, não corresponde com a realidade dos fatos. Tratando-se claramente de um processo de desmoralização absolutamente inconseqüente da ideologia conservadora, ao tempo que o absolve por seus crimes por ser ele um homem na verdade doente, que só fez o que fez devido à combinação explosiva entre a sua patologia mental e a ideologia maléfica defendida pelos conservadores.
Nem Breivik é doente mental, e nem o conservadorismo e a direita são peçonhentos. E isso precisa ser trazido ao debate quando se fala nesse caso, onde um homem, que pode ser parte de um grupo, tomou uma atitude absurdamente violenta para declarar sua indignação em relação sua visão do cenário político, e a preocupação não deve ficar concentrada em estereótipos pejorativos e interesses escusos de manipulação da opinião pública, uma vez que notadamente essa postura ridícula e sem base pode mascarar o verdadeiro mal por traz do acontecido e gerar ainda mais violência nos dias vindouros.
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