segunda-feira, 8 de agosto de 2022

TOLERÂNCIA E PACIÊNCIA.

 

Pé ante pé, na calada da noite, ele saiu de casa, atravessou a rua, abriu o portão da casa em frente a sua e pisou na grama de seu vizinho. Nada lhe aconteceu. Na outra noite repetiu o ato. Mas não só pisou na grama como arrancou uma flor do jardim. Desta vez, sentiu que estava sendo observado, mas não ligou para o fato pois sequer foi admoestado pelo observador. Seguiu avançando em suas atitudes, cada vez mais agressivas. Outra vez que repetiu o feito, o dono do terreno lhe chamou a atenção, mas foi ignorado. Sentindo-se seguro em suas peripécias, incrementou as suas crueldades. Já não escolhia a noite para fazer o vandalismo e sequer espreitava-se para cometê-los, avançava sem receio e a passos firmes sob o olhar complacente e de aprovação por parte dos outros vizinhos. Mas chegou o dia em que o esbulhado perdeu a paciência e agiu. Armado e em companhia de seu cão, reagiu e saiu em perseguição ao invasor que saiu em disparada para se esconder covardemente em baixo da cama. A Visão exígua que ele tinha, lhe permitiam ver o antes passivo vizinho, ladeado pelo animal feroz, com um rifle cruzado frente ao peito e o olhar nada amistoso, esperando que ele se apresentasse. Os que aplaudiam e incentivavam as suas peripécias, nada fizeram para o ajudar. A paciência tem limites e audácia, nem sempre é sinal de coragem. O primeiro era leitor de livros de autoajuda o outro, de Sun Tzu e Maquiavel.

 

Se o estupro é inevitável, relaxa e goza. Depois, processa o estuprador. E guarda para ti o momento do gozo e não do estupro.

 

Se não soubermos viver equilibradamente, entre o caos e a ordem, morreremos de tédio.

 

Afonso Pires Faria, X. VIII. MMXXII.

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