Pé ante pé, na calada da noite, ele saiu
de casa, atravessou a rua, abriu o portão da casa em frente a sua e pisou na grama
de seu vizinho. Nada lhe aconteceu. Na outra noite repetiu o ato. Mas não só
pisou na grama como arrancou uma flor do jardim. Desta vez, sentiu que estava
sendo observado, mas não ligou para o fato pois sequer foi admoestado pelo
observador. Seguiu avançando em suas atitudes, cada vez mais agressivas. Outra
vez que repetiu o feito, o dono do terreno lhe chamou a atenção, mas foi
ignorado. Sentindo-se seguro em suas peripécias, incrementou as suas
crueldades. Já não escolhia a noite para fazer o vandalismo e sequer
espreitava-se para cometê-los, avançava sem receio e a passos firmes sob o
olhar complacente e de aprovação por parte dos outros vizinhos. Mas chegou o
dia em que o esbulhado perdeu a paciência e agiu. Armado e em companhia de seu
cão, reagiu e saiu em perseguição ao invasor que saiu em disparada para se
esconder covardemente em baixo da cama. A Visão exígua que ele tinha, lhe
permitiam ver o antes passivo vizinho, ladeado pelo animal feroz, com um rifle
cruzado frente ao peito e o olhar nada amistoso, esperando que ele se
apresentasse. Os que aplaudiam e incentivavam as suas peripécias, nada fizeram
para o ajudar. A paciência tem limites e audácia, nem sempre é sinal de
coragem. O primeiro era leitor de livros de autoajuda o outro, de Sun Tzu e
Maquiavel.
Se o estupro é
inevitável, relaxa e goza. Depois, processa o estuprador. E guarda para ti o
momento do gozo e não do estupro.
Se não soubermos viver equilibradamente, entre o caos e a ordem,
morreremos de tédio.
Afonso Pires Faria, X. VIII. MMXXII.
Brla estória, me lembrou uma outra historia de certas três letras
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