Lembro que quando eu
era criança, tinha medo do guarda noturno. Ele fardado, com um cassetete na
cintura e um apito na boca, para mim soava como autoridade. Depois me dei conta
que ele era apensas um civil igual aos outros, que era pago por alguns moradores
da rua para lhes dar aparente segurança. Soube então que autoridade no
município, eram os policiais civis e militares, estes sim, investido de
autoridade pela lei. Fui me tornando um cidadão mais consciente e me dei conta
que eles eram também nossos serviçais e que também nos deviam respeito. Tinham
do seu lado a lei, esta sim acima de qualquer contrariedade. Ninguém pode
desrespeitar a lei, nem a autoridade que é paga para fazer cumprir o que nela
diz. Achei que estava consolidado os trâmites legais da convivência em
sociedade. Cumpra-se a lei e tudo estará correto. Fiquei sabendo a posteriori
que estas, poderiam ser modificadas e que somente os representantes do povo é
teriam esta atribuição. Dentro do cabedal legalista, existe uma hierarquia
simples a princípio. Uma lei municipal não pode ir de encontro a uma estadual,
que não pode descumprir o que diz uma federal e acima de todas elas, está a
nossa Constituição Federal. Esta, para ser modificada requer severas condições.
Quando pensei que estavam consolidados os pilares do nosso ordenamento
jurídico, eis que surge um fato estranho no mundo que veio a afetar
consideravelmente os comportamentos sociais e até as leis. Mesmo estando
escrito na lei maior de forma clara que o cidadão tem direito a agir de uma
forma, basta um Ministro, que tenha motivos que não sabemos quais, decretar que
se faça o inverso do que deveria ser feito, que se cumpra o que foi dito e não
o que está positivado. Se houver desobediência, o descumpridor da ordem “divina”
sofrerá severas punições.
Temos conhecidos que vemos quase que diariamente e sequer o
cumprimentamos pois não temos nenhuma afinidade com eles. Estes também não nos
conhecem, se não de vista. Alguns, com os quais já tivemos algum contato, são
merecedores de uma saudação quando vistos, mesmo que de longe. Temos pessoas
com as quais por um longo tempo tivemos longas conversas em mesa de bar ou
mesmo na rua que, por um motivo ou outro nos afastamos deles e, depois de longo
tempo talvez até nem o reconhecemos quando visto em um local diferente do que
habitualmente conversávamos. Estes fatos podem acontecer com colegas de aula ou
de trabalho. Passa o tempo e perdemos contado. Talvez quando vistos, estes
colegas ou conhecidos, um se lebre do outro sem ser reconhecido. Estes
desencontros são bem mais difíceis quando o outro é um amigo. Sim um amigo não
deve ou não deveria ser esquecido. O problema é a correspondência da amizade
que nem sempre tem a mesma intensidade por uma das partes. Ser desprezado por
alguém que julgávamos ser um amigo, causa uma dor que é muito difícil esquecer.
Afonso Pires Faria, 07.10.2021.
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